Por que a ética das virtudes é a única capaz de proporcionar uma vida feliz?

É de se esperar que quem vive na intranquilidade deseje a tranquilidade. Mas também é de se esperar que quem alcança tal objetivo perceba que "colocar as pernas para o ar" não basta; não gera o contentamento que se esperava. Isso não é à toa, pois "colocar as pernas para o ar" não é o que sua natureza busca em última instância. Como nos ensina Aristóteles, todo ser humano deseja, no fim das contas, uma espécie de caminhar; deseja viver uma vida feliz (e não a tranquilidade em si).

O sofrimento deste mundo em que vivemos é tanto que um dos maiores objetivos das pessoas é não sofrer, o que faz com que muitas acreditem que felicidade é o não sofrimento, o que não é verdade. Assim, deixam de buscar a felicidade em si.

E, então, colocando a tranquilidade como objetivo maior, vivem a vida ou tentando fugir de problemas (praticando a ética Epicurista), ou tentando encará-los sem desespero (praticando a ética Estóica). Poucas são as pessoas que não deixam a dor desviá-las do que naturalmente querem, que é viver uma vida feliz, e ainda que compreendem que, para viver esse tipo de vida, é preciso desenvolver habilidades e intelecto para, assim, poder colecionar vitórias e, com isso, sentir o prazer de ter orgulho da vida que levam, alcançando a verdadeira felicidade. Isso seria praticar a Ética das Virtudes.

A prática dessas três éticas me parece uma jornada de treino que culmina com a prática constante das virtudes. Em um primeiro momento, uma pessoa, ainda em uma fase infantil, pode ter medo dos desafios do mundo por não saber como lidar com eles, e assim escolhe fugir, ou seja, pratica a ética epicurista.

No entanto, tentar criar uma "bolha" de tranquilidade não acaba sendo a solução, pois: 1) do ponto de vista do indivíduo, se todos buscam a felicidade e se a vivência desse prazer elevado depende da prática de virtudes, não é dentro de uma bolha que ele a encontrará com frequência; e 2) do ponto de vista do externo, cedo ou tarde essa bolha deve estourar, e então a pessoa se verá em uma condição em que não terá opção a não ser lidar com as dificuldades que o mundo real impõe. Nesse ponto, ela inicia a fase de ter que encarar os problemas sem desespero, ou seja, começa a praticar a ética estóica.

A ética estóica mais ortodoxa possui uma meta que acredito ser impossível para os humanos: nunca sofrer por algo que não depende de nós. O sábio, segundo os estóicos, não sofre com coisas ruins que o destino lhe traz; aceita de bom grado tudo aquilo que não pode controlar.

Contudo, apesar da meta estóica ser utópica, ela nos leva a trilhar um caminho de reflexões que podem nos ajudar a alcançar um "sentir mais equilibrado", o que inclui um "não sofrer além da conta". Um exemplo disso é a reflexão do filósofo Marco Aurélio: “Não tenha medo das coisas do futuro, confie na sua habilidade de resolvê-las quando elas chegarem no presente.”

Esse sentir mais equilibrado é, então, um dos ideais aristotélicos. Aristóteles defende que devemos ter a meta de sentir as emoções na medida certa, o que ocorre quando a primeira coisa que acreditamos ser certa é também o que queremos. Assim, a filosofia estóica, embora mire em um ideal utópico, nos leva a realizar o da filosofia aristotélica, que é plausível.

A harmonia psíquica entre razão e emoção, quando temos um nível razoável de conhecimento sobre a realidade, nos leva a praticar atos virtuosos com facilidade e, com isso, frequentemente sentir orgulho dos resultados que conseguimos manifestar. Nesse ponto, estamos prontos não para criar uma superbolha ou para nunca ficarmos intranquilos diante de situações desafiadoras, mas para viver uma vida permeada por experiências de felicidade.

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