Por que as pessoas sentem culpa?

No post sobre o arrependimento, falei que essa emoção é um tipo de tristeza que só os seres humanos são capazes de sentir, pois ela surge da percepção autoconsciente de que nossas escolhas, por si mesmas, foram causa de um resultado que percebemos como ruim. 

Falei também que o arrependimento é uma emoção bem-vinda, desde que sentida na medida certa, pois nos ajuda a tomar consciência de escolhas ruins para que possamos agir melhor em uma próxima oportunidade. Não penso o mesmo em relação à culpa. Se podemos dizer que a natureza nos brindou com a possibilidade de sentir arrependimento, considero a culpa uma emoção desnecessária.

O ato de culpar o outro (quando realmente acreditamos que ele é culpado — e não quando sabemos que não é, mas queremos transferir a responsabilidade para ele para nos livrarmos de um problema) significa, essencialmente, tentar puni-lo por não ter correspondido a alguma expectativa de cooperação que tínhamos em relação a ele. Isso, por sua vez, significa que passamos a interpretá-lo, ainda que por um breve momento, como uma ameaça que deve ser eliminada — como um explorador, talvez, que não está disposto a cooperar. Isso nos leva a sentir raiva e a querer puni-lo para que ele aprenda que o certo é cooperar conosco.

Com base nessa noção, podemos compreender que, quando sentimos culpa, isso significa que, essencialmente, estamos enxergando nosso "eu" do passado como uma ameaça, por ele ter agido de forma que hoje consideramos errada — e que, portanto, precisa ser punido. (É como se ele não tivesse cooperado com o nosso eu do presente. Meio louco, eu sei.)

Certamente, se existisse uma máquina do tempo, o índice de agressões e assassinatos contra "eus" do passado, cometidos por pessoas com tendência à culpa, seria preocupante — considerando que a culpa é um tipo de raiva, uma emoção que nos impulsiona ao objetivo de eliminar uma ameaça por meio do ataque.

Vejo, então, a culpa como uma emoção desnecessária, pois, no que diz respeito ao desenvolvimento das virtudes, o que se espera de uma emoção negativa que envolva consciência de agência não é que ela nos leve a atacar o nosso eu do passado (como é o caso da autoculpa), mas que ela nos conduza, sobretudo, à lamentação; ao arrependimento por não termos agido com base no que sabíamos, ou por não termos tido o conhecimento necessário para agir melhor. Só assim podemos nos tornar mais sábios e hábeis para agir racionalmente — de modo a fazer melhor numa situação semelhante no futuro.

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