Por que considerar a variável "tempo" é fundamental para a tomada de boas decisões?

Ser racional envolve supervisionar a linha de ação que estamos prestes a seguir e tomar uma decisão consciente de aceitá-la ou revisá-la, com base em uma ponderação das consequências que dependem de nossa rede de teorias; ou, ainda, fazer o mesmo no que diz respeito a revisar ou aceitar a inação. Bom, sabemos que as consequências são coisas que estão no futuro, que pode ser um futuro daqui a um segundo, um minuto, dez anos... E, ainda, que tais consequências podem perdurar por um segundo, um minuto, dez anos, enfim. 

O tempo, então, é uma variável que levamos em consideração quando fazemos escolhas com base no que, no fundo, acreditamos ser o certo; de modo que desconsiderar tal variável significa abrir mão de agir racionalmente, uma vez que implica deixar de olhar para onde estão as consequências, que é no futuro (e deixar de, por meio de uma análise, ainda que rápida, trazê-las descontadas no tempo para o valor delas no presente, como se diz em finanças; de modo a, assim, conseguir avaliar qual delas vale mais a pena produzir).

Um exemplo emblemático disso é um estudo conhecido como "experimento do marshmallow", no qual o pesquisador, de imediato, dava um marshmallow para a criança e dizia que ela tinha a opção de comê-lo agora ou esperar um pouco; e que, se esperasse (algo que durava cerca de quinze minutos), ele daria mais um marshmallow, e então ela poderia comer dois. 

As possibilidades, ou seja, os dois futuros, foram então deixados bem claros para as crianças do experimento. Contudo, algumas crianças falharam em considerar a variável tempo (que no experimento, diferentemente do que geralmente ocorre no “mundo real”, era colocada em evidência), e, com isso, logo comiam o marshmallow, o que sugere que elas cederam à ânsia de saboreá-lo sem considerar o futuro, ponderando se valeria ou não a pena esperar pelo retorno do pesquisador para poder comer dois marshmallows.

Outro exemplo, agora do "mundo adulto", se refere a recusarmos participar de um jogo de futebol entre amigos, que nos garantiria duas horas de diversão, mas que, por sabermos que geralmente o jogo com tais amigos é competitivo, calculamos que participar dele nos colocaria em risco substancial de lesão; e, talvez, teríamos que ir ao médico, fazer fisioterapia, entre outros inconvenientes (saberes que já possuíamos para proceder com tal análise). Com base nesses saberes e cálculos, podemos concluir que as duas horas de diversão não compensam os inconvenientes e contratempos, o que pode nos levar a optar por ficar em casa.

Vale notar que a variável “tempo” se torna especialmente importante para nós quando estamos interessados em realizar algo que depende de muita dedicação ao longo de um período prolongado. Nesse caso, se escolhermos, de fato, proceder com a realização desse projeto, vamos priorizar atividades que “trabalham” em função dessa realização; evitando, ao máximo, perder tempo com atividades que em nada, ou quase nada, contribuem para isso. 

Isso era o que Darwin fazia. Há relatos de que ele quase nunca deixava de considerar a variável tempo, tendo muito respeito por ela, por assim dizer; de modo que costumava “economizar os minutos”, não só fazendo suas atividades o mais rápido que podia, mas também evitando perder tempo com coisas que ele não via propósito (o que, por sinal, denota uma constância na prática da virtude moral da moderação, mais especificamente, da virtude moral da disciplina). 

Inclusive, dizem que ele se proibia de se dedicar a qualquer leitura que não tivesse relação com o assunto de suas investigações (e aqui podemos ver que Darwin era, também, um exímio praticante da virtude moral da curiosidade útil).

Existe uma lição relacionada ao que acabamos de falar, a qual nos foi legada por Silverstein. Ele sugere que devemos considerar nossas vidas como tendo uma estrutura quadridimensional (ao invés de tridimensional), tratando o tempo como agora tratamos o espaço, e concluindo que eventos temporalmente distantes podem fazer uma diferença significativa para a qualidade de nossa vida como um todo (assim como elementos espaciais distantes fazem, uma vez que afetam a forma como enxergamos o todo). 

Em suma, ele sugere que adquiramos habilidades para ver a vida como um todo temporal e para realizar avaliações comparativas entre o “todo” de nossa vida e as possibilidades alternativas de outros “todos” de vida.

Pensata que criei e que têm a ver com o tema:

"Dizem que dá pra ganhar tempo e até economizar tempo, mas a verdade é que, no máximo, dá apenas para aproveitá-lo." 

“A vida pode ser curta, mas ela nos oferece tempo suficiente para fazermos a diferença.”

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