Por que é mais científico considerar que existem outras dimensões da realidade?

Metafísica pode ser definida, em um sentido amplo, como o estudo da realidade como um todo. A metafísica aristotélica, por exemplo, defende a existência de um mundo suprassensível no qual há inteligências superiores que dão ordem às coisas; ou seja, a realidade como um todo abrange tanto nossa dimensão material quanto, ao menos, outra dimensão. 

Nesse sentido, aqueles que argumentam que existe apenas o nosso mundo material também estão lidando com a metafísica, embora entendam que a realidade como um todo é composta exclusivamente por esse mundo (e que outras dimensões da realidade, mesmo que feitas de matéria, não existem). Podemos chamar essa visão de micro-materialismo, uma vez que é possível conceber a existência de um mundo superior, no qual também haja presença de matéria.

Assim, temos duas grandes visões metafísicas da realidade — mas qual delas deve prevalecer? Infelizmente, a ciência, por meio dos estudos publicados, ainda não é capaz de nos ajudar a resolver essa questão. 

Não temos, até o momento, confirmações nem falsificações de hipóteses sobre a existência apenas do nosso mundo material (ou físico) ou sobre a existência de outros mundos. E, como sabemos, a ausência de evidência — neste caso, sobre outras dimensões da realidade — não pode ser tomada como evidência de ausência.

Vivemos uma época em que a perspectiva metafísica predominante na academia é a de que só existe o nosso mundo material (sem apoio empírico conclusivo para essa visão), o que acaba por definir que tipo de pesquisa merece reconhecimento — e, claro, financiamento. A manutenção dessa visão é retroalimentada pelas declarações dogmáticas de pesquisadores influentes da atualidade, como quando desprezam firmemente crenças populares em coisas ou entidades — como fantasmas, por exemplo — que remetem à existência de outras dimensões da realidade.

Como o ponto de vista de líderes é de fundamental importância para a formação e o estabelecimento de uma cultura, o resultado desses desprezos é que temos hoje uma cultura acadêmica que desencoraja atitudes voltadas à consideração da existência de supostas outras dimensões da realidade. 

Assim, qualquer pessoa que decida seguir uma carreira como pesquisador é praticamente obrigada a deixar de lado qualquer investigação sobre possíveis outros mundos (mesmo que tenha interesse em investigá-los), a fim de evitar o risco de ter sua reputação manchada — e, com isso, perder seu status (caso já o tenha) ou até mesmo ser excluída do meio acadêmico, o que equivale a ser classificada como pseudocientista.

Nesse sentido, considerando que o objetivo primordial da ciência é "revelar os segredos da única realidade, que normalmente opera de forma consistente e regular", é importante enfatizar que os segredos da realidade podem ser parcialmente revelados sob a forma de “meias-verdades”

Como esse pode ser o caso de fenômenos supostamente originados em outras dimensões da realidade, nosso dever como cientistas é investigá-los para verificar se há algum grau de verdade na opinião comum sobre possíveis outros mundos — e, com isso, se podem servir como portas de entrada para novas descobertas.

Infelizmente, há hoje um conjunto de incentivos no ambiente acadêmico que mina a prática de uma ciência ampla — aquela que se dedica à investigação de tudo, apoiada na elaboração e aplicação de métodos capazes de objetivar a realidade, o que inclui a tentativa de replicar evidências que possivelmente venham de além do nosso mundo material. 

A questão, então, é: o que é mais científico — partir do princípio de que só existe o nosso mundo, ou de que existem também outras dimensões da realidade?

Entendo que é mais científico supor que existem mundos além daquele em que vivemos, pois isso amplia o horizonte da investigação. Em outras palavras, possibilita a formulação de hipóteses "fora da caixa", que podem ser testadas por meio de estudos científicos. Essas hipóteses, ao serem confirmadas, podem levar à ampliação do conhecimento — e até mesmo a uma nova revolução científica. Caso sejam refutadas, também contribuem para o avanço do saber, uma vez que nos ajudam a compreender o que não existe.

Em suma, é mais científico partir do pressuposto de que existem outras dimensões da realidade, justamente porque ele possibilita a ampliação do campo investigativo — e isso, por sua vez, permite a prática de uma ciência ampla.

Pensatas que criei e que têm a ver com o tema:

"Hipóteses são redes lançadas à realidade, e só quem as lança pode pescar alguma verdade."

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