Por que as pessoas sentem a dor do luto?

Epicteto escreveu que, ao beijar seu filho ou sua esposa, devemos pensar que estamos beijando qualquer outra pessoa, para que, se perdê-los, não fiquemos tão perturbados.

A frase reflete a meta dos estoicos mais ortodoxos, mas que considero difícil de alcançar para seres humanos: nunca sofrer por algo que não depende de nós. O sábio, segundo os estoicos, não sofre com as adversidades trazidas pelo destino; aceita de bom grado tudo aquilo que não pode controlar.

É o caso da morte de pessoas queridas ou do término de um relacionamento. Não temos como controlar esses eventos, então, de acordo com os estoicos tradicionais, tais acontecimentos não deveriam nos causar sofrimento.

Acho essa meta inspiradora, mas preciso discordar dela. Felizmente, não preciso enfrentar essa empreitada sozinho. Conto com a ajuda de outro estoico, mas de uma vertente mais pragmática. Com a palavra, Lúcio Aneu Sêneca:

“Nenhuma sabedoria, de fato, nos poderá libertar de certas fraquezas naturais: tendências inatas, congênitas; a prática pode abrandá-las, mas nunca suprimi-las.” Isso certamente se aplica à dor do luto.

Agora é minha vez. O que tenho a dizer sobre essa dor é que a evolução ensinou aos animais, incluindo nós, que estabelecer alianças é crucial para a sobrevivência. No passado, era fundamental contar com a ajuda de alguém na hora de buscar alimento ou se defender de predadores.

O que fortalece essas alianças é um histórico de reciprocidade, um bom tempo de convivência, permeado por ajuda mútua. Isso geralmente ocorre entre membros da mesma família e parceiros românticos.

Em geral, acreditamos que podemos contar com essas pessoas para nos apoiar nas dificuldades da vida. E essa crença nos dá tranquilidade.

No entanto, a evolução também nos ensinou que perder um aliado é algo profundamente doloroso. Estar sozinho, na savana, nunca foi um bom sinal. Assim, nossa mente foi programada para ver a morte de uma pessoa próxima ou o término de um relacionamento como a perda de um aliado, o que nos leva a acreditar que coisas ruins acontecerão após essa perda.

Essa crença de que coisas ruins nos ocorrerão após a perda de um aliado é a origem da inevitável dor do luto. Inevitável, porque não temos como superar algo que levou milhões de anos para se estabelecer em nossa mente. Contudo, a boa notícia é que podemos não senti-la além do necessário, como nos ensina Sêneca: “Convém se conduzir de tal modo que, em teus próprios males, dês à dor o quanto a natureza pede”.

E para isso, as orientações dos estoicos tradicionais são valiosas, pois, embora não consigam eliminar a dor que nossa natureza nos leva a vivenciar, podem nos ajudar a lidar melhor com ela, especialmente ao nos orientar a adotar um distanciamento racional da dor. Isso nos leva a uma posição de observadores, permitindo-nos ver a dor de forma mais equilibrada, o que, por sua vez, ajuda a senti-la com menos intensidade.

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