Por que as pessoas fofocam?
Para compreender a essência do porquê as pessoas fofocam, precisamos olhar para isso em sua forma rudimentar, sua raiz evolutiva. Podemos perceber duas situações de “fofoca” no mundo animal. A primeira é quando se comunica um perigo, algo que os suricatos fazem muito bem. Estando atentos a predadores, eles emitem um sinal de alarme quando um surge no horizonte, o que aumenta as chances do grupo como um todo conseguir evitar aquele predador.
A segunda situação é a comunicação de um benefício. Nesse caso, é impressionante a “fofoca” das abelhas. Elas são capazes de fornecer a localização de recursos essenciais, como néctar e água, usando uma espécie de dança chamada "waggle dance" (ou dança balançante). É muito interessante de ver.
Meu argumento, então, é de que a fofoca humana é uma forma mais elaborada de algo que já observamos no mundo animal, e que ela existe para orientar o outro em direção à aquisição de um benefício ou à evitação de uma ameaça.
Assim, quando se fala que fulano de tal traiu a mulher, isso já indica que ele não é uma pessoa confiável, uma ameaça por não ser capaz de cooperar adequadamente. Já falar que fulana de tal tem um bom emprego mostra que ela pode oferecer o benefício de ser uma boa parceira, capaz de ajudar na sustentação de um lar.
Não quero dizer que temos necessariamente consciência de que estamos comunicando um benefício ou uma ameaça, mas que esses são, na maioria das vezes, os conteúdos implícitos por trás das fofocas que fazemos, pois a evolução nos condicionou a realizá-las.
Como todo comportamento que deriva do mundo animal e se torna elaborado, a fofoca pode ter ganhado novos contornos à medida que as sociedades humanas se tornaram mais complexas. No exemplo da fofoca sobre a traição, além de comunicar características daquele indivíduo, a fofoca comunica implicitamente que o ato de trair é errado, estabelecendo, informalmente, concepções de certo e errado dentro de um grupo. Assim, as redes de fofoca também se tornam redes de criação e consolidação de normas morais.
Um detalhe importante que não pode passar em branco é que, em geral, a fofoca pode ser potencialmente útil para quem recebe a informação, sendo natural que o receptor tenha interesse em ouvi-la. Mas qual seria o benefício para quem emite a mensagem? Qual a razão adaptativa de ele fazer isso?
A meu ver, quem emite a mensagem pode ganhar duas coisas: a construção ou manutenção de uma aliança, ou uma relação de reciprocidade, ou ainda status, caso o conteúdo da mensagem indique que o emissor possui conhecimentos ou habilidades superiores.
Mas o que realmente importa na aquisição desses benefícios, como construir ou manter uma relação de reciprocidade ou adquirir status, é o que vem depois: o benefício de ter aumentadas as chances de ser ajudado no futuro por aquele que no passado recebeu a mensagem.
Sendo assim, a pressão adaptativa no tempo evolutivo deve ter conferido também um interesse natural pela emissão da mensagem, já que isso aumenta as chances de receber ajuda no futuro. E, se há um interesse natural mútuo entre o emissor e o receptor da mensagem, a fofoca se torna algo propenso a existir em abundância.
Contudo, não podemos deixar de mencionar que, ao longo do tempo evolutivo, o ser humano aprendeu que fofocas mentirosas também podem proporcionar benefícios de reciprocidade e status. Uma pessoa pode, por exemplo, mentir dizendo que fulano de tal quer seu mal, estabelecendo com você uma relação de amizade, ou então mentir sobre suas próprias conquistas, ganhando assim sua admiração.
Com isso, ela também conquista a sua disposição em ajudá-la no futuro. Contudo, existe um grande porém: se você descobrir que ela mentiu, sua percepção sobre ela muda drasticamente — de aliada para inimiga. Assim, ao descobrir que a fofoca era mentirosa, a pessoa passa a ser vista como um inimigo, e não mais como um aliado.
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