Por que as pessoas entram em depressão?
Eu entendo que uma melhor compreensão das patologias que afligem a humanidade pode ser alcançada se, primeiro, olharmos para elas em sua forma rudimentar, ou seja, como se manifestam em outros animais, para, só depois, observarmos como se amplificam em nós devido às especificidades da nossa natureza.
Como mencionei no post “O que são as emoções?”, a avaliação de que houve fracasso em alcançar um objetivo gera tristeza, uma emoção cuja função seria incentivar o emprego de outros meios no futuro.
Ocorre que, quando um animal se encontra diante de uma ameaça que considera impossível de ser eliminada e tenta, sem sucesso, alcançar o objetivo de escapar dela com o uso repetido de uma ou mais formas de fuga, ele pode simplesmente desistir de tentar, compreendendo que está “aprisionado”.
Na prática, isso significa aceitar que não há mais o que fazer, ou seja, que o fracasso está consumado, o que leva o animal a viver cronicamente a tristeza. Isso, a meu ver, seria a forma rudimentar do que em humanos conhecemos como depressão.
Contudo, no caso dos seres humanos, essa tristeza é amplificada pela nossa capacidade de ter a noção de que não há saída para uma condição indesejada, de que estamos “aprisionados” nela, e da percepção de que não somos capazes de criar um futuro melhor para nós mesmos — algo relacionado ao que chamamos de desesperança.
É o caso, por exemplo, de um término de relacionamento, no qual a pessoa que foi “abandonada” sente medo de ficar sozinha, acreditando que não será capaz de encontrar outro parceiro — uma teoria possivelmente falsa. Isso a leva a comportamentos no sentido de tentar reconquistar o antigo parceiro, o que, essencialmente, significa tentar evitar a perda de um relacionamento íntimo.
Esta é a fase do luto conhecida como barganha, quando a pessoa tenta “barganhar” o retorno, tentando mostrar-se mais atraente para o ex-parceiro, fazendo coisas que antes não fazia, como dar flores, por exemplo.
Contudo, após várias tentativas frustradas de evitar a ameaça, a pessoa pode acabar desistindo, vendo-se “aprisionada” na situação indesejada, sem vislumbrar um futuro melhor. Isso representa a fase do luto conhecida como depressão. Podemos perceber, então, que a vulnerabilidade de uma pessoa para entrar em estado depressivo está diretamente relacionada a dois fatores.
O primeiro é a incapacidade de enxergar uma saída para a situação incômoda, mesmo quando há alternativas possíveis, o que pode indicar falta de sabedoria, principalmente a respeito dos “comos” — como sair da situação. Como gosto de dizer, o mundo dos meios é quase infinito; quase sempre há uma forma de resolver um problema, o que não necessariamente significa tentar reconquistar o relacionamento, caso já não haja mais possibilidades.
O segundo fator é a pessoa até ter sabedoria sobre a existência de uma saída, mas não conseguir parar para refletir sobre o “como”, devido ao domínio das emoções negativas, especialmente a tristeza, o que reflete uma falta de racionalidade.
Em ambos os casos, seja por falta de sabedoria ou de racionalidade, a pessoa se vê aprisionada. Essa percepção de aprisionamento é o que, em minha visão, leva à depressão. Diante disso, podemos perceber que uma forma de lidar com a depressão, e até mesmo superá-la, é refletir sobre os meios para sair da situação indesejada, até encontrar um que faça sentido para a pessoa e que a faça acreditar que esses meios podem funcionar.
Isso pode envolver pensar em novos objetivos, como, por exemplo, descobrir e seguir sua missão de vida, o que amplia o leque de alternativas — antes limitado ao foco na reconquista do antigo parceiro.
Isso em si já deve provocar um alívio, pois a esperança começa a se instaurar. E, se os meios que a pessoa pensou realmente funcionarem, no sentido de ajudá-la a perceber que se livrou do aprisionamento que antes acreditava existir, podemos afirmar que sua depressão está começando a ficar para trás.
Pensata que criei e que têm a ver com o tema:
"A esperança, mesmo que ilusória, pode ser um analgésico para a depressão, mas a cura vem de conseguir sair da situação que concebemos como uma prisão."
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