Por que as pessoas querem impor aos outros o que devem fazer?

É o normal de muitas pessoas quererem que o outro aja como elas mesmas agiriam, mas se o certo e errado fosse fácil, não precisaria existir todo o estudo da ética.

A grosso modo, existem dois tipos de ética: a ética que entende que devemos seguir regras externas, como mandamentos divinos ou a moral do senso comum, por exemplo; e a ética que entende que devemos seguir regras internas, ou seja, praticar, em especial, as virtudes da sabedoria e do discernimento de modo a seguir nossa própria consciência para decidir o que fazer em cada situação, o que envolve pesarmos as prováveis consequências dos nossos atos antes de escolher o caminho a seguir.

Intuitivamente, as pessoas são mais adeptas de uma dessas duas posições: seguir regras externas ou seguir regras internas; e as que são mais adeptas do seguir regras externas acabam sendo as que mais impõem suas regras ao outro, mesmo sem estarem conscientes disso.

Estamos aqui tratando das pessoas que têm boas intenções, pois também existem aquelas que impõem regras ao outro com o intuito de dominá-lo, de fazê-lo servir aos seus propósitos.

Quem impõe regra ao outro com boa intenção realmente deseja o bem do outro, mas entende que o outro vai se dar melhor se seguir as regras impostas do que tomar decisões de sua própria cabeça. É aquela coisa do “falo para seu bem”, em que, na verdade, o “falar” não tem natureza de um conselho, mas de um ditame; a prova disso surge quando o outro se recusa a seguir um suposto conselho e o regrador acaba ficando com raiva. Isso acontece porque o regrador se vê desafiado, vê seu status ameaçado naquele exato momento.

Arrisco dizer que a maioria das pessoas hoje é intuitivamente adepta do seguir regras externas. Não à toa, filósofos como Alasdair MacIntyre alertaram que a real noção de virtude se perdeu no tempo, que é a noção, como aponta Elizabeth Anscombe, de que virtude tem a ver com agir em conformidade com o que sabemos no momento, mesmo que isso nos leve a fazer uma escolha objetivamente ruim.

E, de fato, seguir regras externas pode até fazer a pessoa acertar mais do que errar em termos objetivos, se as regras forem razoavelmente boas. Mas a pessoa nunca vai conseguir acertar na grande maioria das vezes.

Isso, primordialmente, porque é difícil que exista regra que funcione para uma infinidade de situações.

Mas também porque a pessoa não foi estimulada a enxergar os particulares de cada situação, para que assim consiga raciocinar e tomar decisões minuciosas a respeito do que é melhor a se fazer em cada momento. E também porque a pessoa tem a evolução do seu saber prejudicada, pois, tomando decisões apenas com base em regras externas, ela dificilmente aprenderá com seus erros e acertos, pois, se acertou ou errou, ela tenderá a pensar “estava só fazendo o que me falaram pra fazer”.

Assim, para aqueles que se descobrirem adeptos da ética de regras externas e desejam de fato o bem do outro, resta não tentar forçá-lo a agir como supostamente deveria. O máximo aceitável é conselhos respeitosos, sem raiva embutida e sem a expectativa de que o outro vai seguir tais conselhos.

Pensatas que criei e que têm a ver com o tema:

“Não me venha tentar impor sua moral, pois eu já tenho a minha…isso se chama autonomia.”

"Quem se acha dono da verdade é dono da minha repulsa."

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