Por que as pessoas querem se manter em sua zona de conforto?
Para responder a essa pergunta, podemos tomar como ponto de partida um estudo de Wood-Gush, Jensen e Algers, publicado em 1989. Neste estudo, os pesquisadores buscaram analisar o comportamento de um pequeno grupo de porcos domésticos que foram soltos em uma área de floresta.
Durante o experimento, os pesquisadores notaram que, nos primeiros dias, os porcos se espalharam amplamente por diferentes seções da área, mas, após algum tempo, restringiram sua movimentação a regiões específicas, que continham recursos necessários para a sobrevivência. Ou seja, a partir de um determinado momento, os porcos passaram a se restringir à sua zona de conforto.
Meu argumento, então, é que, quando impulsivamente evitamos explorar o mundo e nos mantemos na zona de conforto, estamos, no fundo, tentando nos manter próximos de coisas que acreditamos serem essenciais para a nossa sobrevivência.
Note que usei a palavra "impulsivamente". Ou seja, o problema de se manter na zona de conforto é recusar oportunidades de exploração sem raciocinar sobre elas, sem avaliar se realmente valem a pena.
Afinal, existem zonas de conforto melhores do que outras, e a única forma de descobrir isso é por meio da exploração. Acontece que explorar de maneira totalmente aleatória não permite que você usufrua das zonas de conforto que descobre. É sobre esse dilema que quero falar.
Quando estamos dentro de uma zona de conforto, usufruindo dela, em uma rotina que nos exime de nos preocupar com coisas básicas, como segurança e alimento, podemos usar nossos recursos cognitivos para atividades produtivas, inclusive as que podem contribuir para um bem maior.
Mas, claro, ficar só na zona de conforto nos impede de ter novas experiências e crescer com elas. Justamente por isso, explorar também é fundamental, pois permite ampliar nosso horizonte de conhecimento, desenvolver novas habilidades e conquistar novas coisas.
Essas novas conquistas representam uma nova zona de conforto. Ou seja, as explorações passadas nos levam a novas zonas de conforto. O problema é que não há garantia de que a nova zona de conforto será melhor que a antiga. Um novo relacionamento pode ou não ser melhor que um antigo, por exemplo. O mesmo vale para um novo emprego.
O grande dilema deriva do fato de que nosso tempo no mundo é finito e linear. Ou seja, só podemos fazer uma coisa de cada vez. Quando estamos explorando, não estamos usufruindo do que já conquistamos. Além disso, existem vários cenários em que a decisão de explorar implica na perda do acesso à zona de conforto atual, como ocorre em relacionamentos e empregos.
Esse é, talvez, o dilema fundamental da humanidade, expresso na contradição dos ditados populares: "Mais vale um pássaro na mão do que dois voando" e "Quem não arrisca, não petisca." O que é melhor, afinal? Manter o pássaro que está na mão ou arriscar para petiscar?
A sugestão que posso dar para lidar com esse dilema é estar atento para os excessos. Os dois modos de atuação (usufruir e explorar) são simultaneamente essenciais e necessários para se ter uma vida de qualidade. Quando o dilema surgir, vale, então, raciocinar com profundidade sobre quando explorar vale a pena e quando ficar na zona de conforto é mais indicado.
Além disso, apesar de explorações aleatórias cumprirem um papel relevante, na maioria das vezes é importante estar consciente do que se quer obter com uma exploração, bem como do que você está abdicando ao decidir explorar.
E isso não é tarefa fácil, pois nem sempre dá para estimar as probabilidades de sucesso de uma eventual exploração e as recompensas futuras de novas zonas de conforto que podem ser encontradas, sem falar no risco de subestimar a qualidade da zona de conforto atual, como expressado no ditado popular sobre a grama do vizinho ser sempre mais verde.
Pensatas que criei e que têm a ver com o tema:
"Minha zona de coforto é o movimento, visando sempre o melhor."
"Só os otimistas vão longe, pois os pessimistas preferem não arriscar, tendendo a se acomodar no primeiro lugar que consideram razoavelmente confortável."
"Quando a gente precisa fazer esforço para se manter em uma zona de conforto é porque já passou da hora de ir embora."
"Eu prefiro aguentar a dor de ainda não ter o que desejo do que tentar me contentar com menos do que mereço."
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