Por que as pessoas ligam para a beleza?

 Para Platão e para os gregos em geral, o belo e o bom eram inseparáveis. Essa associação realmente faz sentido em muitos casos. Uma bela espada tende a ser uma boa espada; um belo corpo tende a ser um corpo saudável. 

No entanto, sabemos que essa correlação não é perfeita. Uma bela espada pode ter uma lâmina gasta, e um belo corpo pode esconder uma doença. Ainda assim, o belo é frequentemente um indicativo de qualidade, uma aproximação de que algo é bom, mesmo que não seja uma correlação infalível.

Parto do pressuposto de que as pessoas ligam para a beleza, pois, em geral, o belo está associado ao bom, e essa associação está bem estabelecida em suas mentes. Isso faz todo sentido evolutivo, pois o belo é, em essência, a união harmônica de várias partes em um todo organizado. 

Essa harmonia era relevante para nossos ancestrais, que percebiam como bela uma estrutura segura, como um abrigo estável, ou um potencial parceiro com porte atlético, que provavelmente estaria em melhor condição física para enfrentar predadores e outros perigos.

A evolução, assim, nos conferiu uma sensibilidade e um gosto pela harmonia das partes, pois isso indicava que aquele objeto ou ser poderia ser útil para nossa sobrevivência. Esse gosto pela harmonia se relaciona com o que, na psicologia, é chamado de percepção gestáltica, ou das formas. 

Dessa maneira, somos capazes de perceber, instantaneamente, um todo organizado como belo, numa experiência estética de apreensão da beleza.

Ademais, é importante notar que esse gosto pela beleza, quando aplicado ao pensamento abstrato, nos leva a compreender melhor a realidade, pois nos permite perceber as interações e associações entre as coisas.

Claro, podemos nos perder em interpretações distorcidas, mas acredito que, quanto mais a pessoa valoriza a beleza das ideias, mais criteriosa ela se torna em estabelecer associações lógicas e reais, o que, embora não garanta a ausência de ficções, pode funcionar como um antídoto contra elas.

Implícito no que estou defendendo está a ideia de que o belo representa instantaneamente uma hierarquia: todo belo implica, necessariamente, a existência de algo feio, considerado inferior a ele (pelo menos em termos de beleza). 

No entanto, especialmente quando falamos de beleza física, muitos critérios de "belo" são socialmente construídos e podem ser idiossincráticos. Dependendo da hierarquia implícita na beleza, isso pode gerar incômodos, e com razão. Um exemplo disso é o domínio dos traços europeus nos padrões de beleza no Brasil, que tem um caráter claramente arbitrário e injusto.

Porém, a construção social da beleza, ao meu ver, se baseia em elementos que todos consideram belos. Existe um nível basal universal de beleza, e, a partir daí, a cultura e a experiência pessoal de cada um moldam os gostos individuais sobre o que é belo.

A solução para esses desvios não é negar a existência do belo e do feio, mas sim compreender quais representações de beleza estão propagando hierarquias injustas e quais não estão. Além disso, como Platão nos ensina, a beleza física é apenas a forma mais exterior e inferior da própria beleza. Ela está hierarquicamente abaixo da beleza das ideias.

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